Zobeide (pág.26)
Para Italo Calvino in memoriam
O mútuo onírico desejo
agregou os homens que
vagavam solitários pelos ermos
No sétimo dia
desolados no escuro das noites peregrinas
desenharam o nome Zobeide
Mas o nome não é mulher
nem cidade
tampouco a casa
Cada homem com sua aquarela
tentou captar as formas latentes
do desejo chamado Zobeide
Para cobrir a nudez transparente da criatura
vestiram-na com o branco das
nuvens inalcançáveis
Deram-lhe como pernas e braços círculos
de luz que a circundavam inteira
Fatigados pelas controvérsias
sobre a perfeição da mulher
adormeceram sobre as formas
evanescentes do sonho
Desperta pela respiração
de seus criadores
Zobeide lançou os longos cabelos
sobre os próprios rastros de luz
de seus pés em fuga
Para sempre insones
Tragados pelo interminável trabalho
de erguer muros muralhas
os homens não perceberam
as botas encardidas que esmagavam os farrapos
de sonhos aprisionados
na cidade armadilha
dos desejos inconscientes