f lito usando apenas o seu livre-arbítrio”, escre- BRASIL NA MIRA DE HITLER
ve o historiador. Diferentemente do que foi
longamente aceito por nossa historiografia, a
ordem de atacar o Brasil não partiu de Hitler,
defende o autor. Para isso, ele se vale dos docu-
mentos de alemães e aliados. Depois do ataque
japonês em Pearl Harbor, em dezembro de 1941,
os norte-americanos buscaram a solidariedade
dos países latino-americanos.
A maioria rompeu relações diplomáticas
com o Eixo, caminho também seguido pelo
Brasil em janeiro de 1942. Nossos militares, no
entanto, hesitavam em apoiar uma declaração
de guerra, pois sabiam que a fragilidade de nos-
sas Forças Armadas colocaria o país em risco.
Temiam ainda serem obrigados a aceitar a pre-
sença de tropas norte-americanas no Nordeste,
o que lhes despertava ojeriza. A desconfiança
era mútua entre Brasil e Estados Unidos. Os
norte-americanos receavam o que consideravam
tendências germanófilas de parte do Exército
brasileiro. O impasse impedia uma colaboração
estreita entre os países, com o uso de bases no
Brasil pela Marinha e pela Força Aérea norte-
-americana. Também vedava ao Brasil acesso a
equipamento moderno para suas forças.
Os aliados, por sua vez, hesitavam em arras-
tar para a guerra um país despreparado militar-
mente como o nosso. O próprio primeiro-mi-
nistro da Inglaterra, Winston Churchill, se
mostrava cético quanto à capacidade do Brasil
para entrar no conf lito. “Churchill afirmava
categoricamente que o Brasil era um país sem
tradição de luta, seus efetivos militares eram
mal preparados e seu material bélico, arcaico e
ineficiente”, diz o historiador Eduardo José
Afonso, professor da Universidade Estadual
Paulista (Unesp). Ao mesmo tempo, a animosi-
dade do Estado Novo com o regime alemão se
ampliava desde que, em 1938, as atividades do
Partido Nazista no país haviam sido proibidas
pelo governo. Pouco depois da declaração de
guerra, começaram os ataques de submarinos
a cargueiros que se dirigiam aos EUA.
Em maio, um avião Catalina da Força Aérea
Norte-Americana, baseado no Brasil, atacou
dois submarinos italianos na região de Fer-
Se a Segunda Guerra Mundial tivesse tomado outros
rumos e a Alemanha conseguisse virar o jogo, a
América Latina fatalmente entraria na mira dos
alemães. Mesmo que não houvesse uma invasão
militar, os planos de Adolf Hitler eram muito ambicio-
sos, em especial por causa da grande colônia
germânica estabelecida na Região Sul do Brasil.
Em seu livro Hitler M’a Dit (Hitler me disse), o
ex-oficial prussiano Hermann Rauschning relata
uma conversa ocorrida em 1934 em que fica claro o
apetite do ditador pelo continente. “O Brasil me
interessa, em especial. Lá edificaremos uma nova
Alemanha. Ali se reúnem todas as condições para
uma revolução que permitiria transformar, em
alguns anos, um Estado governado e habitado por
mestiços corrompidos numa possessão germâni-
ca”, afirmou Hitler no diálogo, reproduzido no livro
O Brasil sob a Mira de Hitler, de Roberto Sander.
“Os brasileiros precisam de nós, se quiserem
fazer alguma coisa por seu país. O que lhes falta
não é tanto capital para frutificar, porém o espírito
de empreendimento e talento de organização”,
continuou o Führer. “Nós daremos ainda uma
terceira coisa: nossas ideias políticas. Se há um
continente onde a democracia é uma insanidade,
esse é a América Latina”, conclui o líder nazista.
Segundo os historiadores, o interesse pelo Brasil
não era gratuito. “A costa nordeste era um ponto
estratégico para os aliados e para o Eixo, devido
à sua posição geográfica. Supõe-se que Hitler teria
interesse no território brasileiro por causa da sua
proximidade com o norte da África e as rotas
comerciais do Atlântico Sul”, afirma a historiadora
Silvia Soler Bianchi, coordenadora do curso de
História da Universidade Anhanguera de São Paulo.