pertencia nem lhe dizia respeito mas na qual iria entrar dentro em pouco, sozinha, sem
que ninguém se debruçasse sobre ela
(mas não se sentia sozinha, sentia-se indiferente)
a tranquilizá-la
(mas estava tranquila)
a sorrir-lhe
(mas não se achava triste)
a minha irmã com medo, quase a chamar
- Mãe
e calada, de boca aberta mas calada, encostando-se à parede que cedia, cedia, o
médico, assustado - Por este andar daqui a nada cai-nos tudo em cima
as paredes, o teto, os móveis, os instrumentos, nós, fica a borboleta de metal que
não vale um chavo, não somos ricos, a esvoaçar às cegas por aí, fica o preto não como é
agora, claro, pequeno, quase esquelético, encostado a um murito de adobe, agarrado a
uma cabra que não cessa de balir, a espantar-se para o fumo dos jipes que
trambolhavam nos desníveis e as cinzas dos quimbos onde uma ou outra labareda ainda,
os pés demasiado grandes para o seu tamanho e ossos muito maiores que ele, como
podem existir ossos enormes num corpo tão pequeno, fica o meu pai a quem dois ou
três sujeitos amarram os braços, os pulsos, os tornozelos, as per - Sinto nos vossos semblantes a ale
nas, que penduram de cabeça para baixo no gancho da adega sobre os dois
alguidares, um cachorro a ladrar lá fora, galinhas, as facas na mesa de tampo metálico,
o meu avô explicando ao meu pai o modo de as afiar numa roda de pedra que se
acelerava e desacelerava carregando num pedal, dantes as tias vinham assistir, ansiosas,
felizes, com pena do sofrimento do porco, aproximando-se mais a informarem - Não quero ver
aproximando-se mais decidindo - Não consigo ver
de palmas a taparem os ouvidos, com lágrimas de dó e aproximando-se mais, o meu
pai a quem dois ou três sujeitos de boina amarram os braços, os pulsos, os tornozelos,
as per - Sinto nos vossos semblantes a ale
nas, que penduram de cabeça para baixo num gancho da adega, sobre os dois
alguidares, um cachorro a ladrar lá fora, galinhas, as tias armadas de bancos, cadeiras,
um oleado para o caso do sangue as pingar, apontando-me umas às outras - Já reparaste que o bicho tem lágrimas?
que o bicho tem pestanas transparentes, a alegria de irem servir a Pátria, os soldados
a chorarem no barco, gritos de adeus no cais, lenços, uma marcha militar mais forte
ainda, o general a descer do palanque à conversa com dois ou três oficiais respeitosos,
as gaivotas em círculos frenéticos quase despenhando-se na água, um navio de guerra
na outra margem, os sargentos a empurrarem os soldados para o interior do navio, já
nenhum ruído, a chuva apenas, uma primeira faca, uma segunda faca, os gumes
experimentados num pedaço de madeira, uma terceira faca mais larga, mais curta, ideal