30 NATIONALGEOGRAPHIC
A Energy Foundation pediu a Peter Calthorpe
e a um arquitecto do gabinete de Jan Gehl para
conversarem com funcionários da administração
municipal. “Nessa primeira palestra, eles come-
çaram a aceitar as ideias”, disse Wang. Por fim, a
Energy Foundation pagou a Peter Calthorpe para
refazer o plano de Chenggong. “Já estava tudo
planeado e eles tinham começado a construir as
infraestruturas”, recorda o arquitecto. “Já tinham
traçado os superquarteirões.” Nos sítios onde ain-
da era possível, ele dividiu cada um em nove qua-
drados, com ruas mais pequenas. Colocou os edi-
fícios mais perto da rua, com lojas no piso térreo,
por baixo de escritórios e apartamentos.
O projecto, ainda em construção, tornou-se o
primeiro de muitos desenvolvidos na China por
Peter Calthorpe e um jovem colega seu, Zhuojian
(Nelson) Peng, e captou a atenção do Ministério
Chinês da Habitação. Reforçou a mudança de ati-
tude que já estava a ganhar forma na mente dos
de habitantes até 2030. A China enfrenta, simul-
taneamente, uma escassez de habitação a preços
acessíveis e uma bolha imobiliária, pois muitas
pessoas investem em apartamentos e mantêm-
-nos fora do mercado, disse o perito em planea-
mento Wang Hao, que trabalhou 20 anos na Aca-
demia Chinesa de Planeamento e Design Urbano.
“Metade das pessoas mudaram-se para a cidade e
a outra metade não tem dinheiro para fazê-lo”, co-
mentou. O governo chinês está a tentar projectar
as cidades de forma mais humana e sustentável e
a deflacionar a bolha do imobiliário sem prejudi-
car a economia. Ninguém sabe como fazê-lo.
O TESTE DECISIVO poderá ocorrer em Xiongan,
uma extensão de zonas húmidas com 1.770 quiló-
metros quadrados, que inclui um lago poluído,
cerca de cem quilómetros a sudoeste de Pequim.
Em Abril de 2017, o presidente Xi Jinping anunciou
que tencionava construir ali uma nova cidade. Os
planeadores urbanos chineses e que foi ratificada
de um modo surpreendente. Em 2016, o Comité
Central do Partido Comunista e o Conselho de
Estado, os mais altos órgãos do Estado, emitiram
um decreto: doravante, as cidades chinesas deve-
riam preservar a terra agrícola e o seu património,
criar quarteirões mais pequenos, estreitos e sem
vedações, mais amigos dos peões. Teriam tam-
bém de se desenvolver com base em transportes
públicos. Em 2017, estas directrizes foram incor-
poradas num manual para os planeadores chine-
ses, chamado Cidades-Esmeralda. A maior parte
do manual foi redigida pela Calthorpe Associates.
“Ficámos admirados”, admitiu Zou Tao, direc-
tor do Instituto de Planeamento e Design Urbano
Tsinghua Tongheng, em Pequim. “Há mais de dez
anos que argumentamos que esse é o caminho.
Ainda estamos a habituar-nos e a perceber como
concretizá-lo no mundo real.”
A urbanização chinesa é um ponto de viragem.
O governo pretende deslocar para as cidades um
número suplementar de quase trezentos milhões
objectivos são alojar cinco milhões de pessoas e
aliviar o trânsito e a poluição em Pequim. No Verão
passado, quando visitei o local com He e vários
peritos em planeamento urbano, a construção limi-
tava-se ainda a um edifício provisório para a
câmara municipal. Turistas chineses passeavam
pelas ruas arborizadas. Um autocarro autónomo
circulava, vazio, para fins experimentais.
Xi declarou que Xiongan é um projecto para
o milénio. Um vídeo no centro de visitantes do-
cumenta uma cidade extremamente verde, com
quarteirões pequenos de edifícios baixos. O prazo
de conclusão é 2035 (uma eternidade, para os pa-
drões chineses) mas o plano aprovado em Dezem-
bro sugere que seguirá as directrizes do livro das
Cidades-Esmeralda. Peter Calthorpe espera vir a
projectar parte desta nova cidade.
“Tentamos resolver todos os problemas urba-
nos chineses”, disse uma arquitecta paisagística
que conheci, mas que prefere não ser identifica-
da. “Não sabemos ao certo como consegui-lo. Este
local vai ser uma experiência.”
CONSTRUIR UMA CIDADE VERDE
PARA ALIVIAR O CONGESTIONAMENTO DE PEQUIM, A CHINA PLANEIA
DE EDIFÍCIOS BAIXOS QUE POSSA SERVIR DE MODELO PARA O FUTURO.