Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Época/Nacional - Notícias
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Mansueto Almeida

para aquecer a economia no curtíssimo prazo,
gerar empregos, investimentos e pavimentar o
caminho para Bolsonaro em 2022. Na equipe
econômica, o sentimento é de que “a ficha
caiu”. Ainda que muitos, inclusive o ministro,
mantenham a convicção de que o ideal seria
perseguir o ajuste fiscal, as reformas e a
redução do tamanho do Estado, entenderam
perfeitamente que a batalha agora é pela
reeleição. Um argumento usado pelo entorno
de Guedes é o seguinte: é preciso que
Bolsonaro se mantenha no poder para que esta
equipe econômica também esteja e consiga em
algum momento tocar o que julga necessário
para o Brasil. É nesse contexto, por exemplo,
que o Renda Brasil vem sendo desenvolvido
pelo time de Guedes. Trata-se de uma forma
de tentar suprir a lacuna de políticas sociais do
governo, e que isso tenha a assinatura da
equipe econômica.


A percepção da necessidade de um programa
social veio com o auxílio emergencial de R$
600, concedido por cinco meses durante a
pandemia. Ficou claro para o governo — e para
Guedes — o canhão político que representa
uma medida desse tipo. Uma reportagem de
ÉPOCA publicada na edição de 13 de julho da
revista mostrou in loco como o novo auxílio
havia alterado a imagem de Bolsonaro em
redutos petistas do sertão nordestino, onde
Lula mais conseguiu transferir votos a
Fernando Haddad. Não à toa, Bolsonaro avisou
que, recuperado da Covid-19, iniciará viagens
pelo Nordeste. O objetivo de chegar aos
grotões é inteiramente político: ele precisa
mostrar que é o pai da melhoria de vida
decorrente do auxílio, ainda que o valor
sugerido por seu governo tenha sido de apenas
R$ 200, elevado a R$ 500 pelo Congresso,
mas fixado em R$ 600 pelo próprio presidente,
determinado a manter-se autor da ajuda.


Na cartilha de expansão fiscal que populistas


gostam de usar, a receita para o futuro seria
óbvia: transformar os R$ 600 em bolsa
permanente, uma espécie de renda básica para
as famílias que vivem em situação de miséria.
Seria ideal para os muitos brasileiros vítimas
das mazelas de um país desigual, e também
para um governo que precisa de popularidade
para permanecer no poder. A solução perfeita
só tem um pequeno entrave: a monumental
dívida pública. O governo estima que o déficit
atinja um recorde histórico neste ano, de 11,5%
do PIB, uma previsão otimista perto do
antevisto pelo mercado, segundo dados
compilados pela Bloomberg, de um déficit de
14% do PIB. A dívida pode atingir 100% do PIB
já em 2020.

O que pode ser feito, e que é o cerne do
programa Renda Brasil, idealizado por Guedes
para dar um lastro social ao governo, é juntar o
Bolsa Família a outros auxílios já existentes,
como forma de encorpá-lo e dar a ele uma
nova cara — a cara do bolsonarismo. O valor
médio pago pelo Bolsa Família a cada lar hoje
é de aproximadamente R$ 189. Acrescidos os
benefícios do abono salarial, o seguro-defeso e
o salário-família, a equipe econômica calcula
que o valor pode chegar a R$ 300 por mês, em
média. Além da quantia elevada, faz parte do
plano a criação do chamado “imposto de renda
negativo”, em que trabalhadores informais
invisíveis aos olhos do Leão passariam a
declarar sua renda, em troca de um crédito
fiscal. Ao final, o Renda Brasil englobaria 57
milhões de pessoas, contingente similar ao do
Bolsa Família.

Segundo dados do IBGE, 29,4 milhões de
domicílios brasileiros, ou seja, 43% do total,
receberam, em junho deste ano, algum tipo de
medida de proteção social para enfrentar a
crise causada pela pandemia. Nos estados das
regiões Norte e Nordeste, o percentual de
domicílios beneficiados com auxílio
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