As hordas são uma visão aterradora: “elas incluíam sindicatos, lobistas ambientais e dos
direitos humanos e grupos de pressão que se opõem à globalização” – quer dizer, a globalização na
forma particular exigida pelo “público interno”. A horda turbulenta subjugou as estruturas de poder
patéticas e impotentes das ricas sociedades industriais. Ela é dirigida por “movimentos marginais
que defendem posições extremadas” e possui uma “boa organização e sólidas finanças” que a
capacitam “a manejar a sua grande influência com a mídia e com os membros dos parlamentos
nacionais”. Nos Estados Unidos, a “grande influência” na mídia era efetivamente zero, e na Grã-
Bretanha, onde era quase igual, ela atingiu um nível tal, que o Ministro do Interior Jack Straw, do
governo trabalhista, reconheceu na BBC que nunca ouvira falar do AMI. Mas é preciso compreender
que mesmo a menor brecha na conformidade constitui um terrível perigo.
O jornal prossegue dizendo que será preciso “convocar o apoio do empresariado” para
rechaçar as hordas. Até o momento, o empresariado não reconheceu a gravidade da ameaça. E ela é
mesmo grave. “Veteranos diplomatas da área comercial” advertem que com a “crescente exigência
de maior transparência e controle público” está ficando “mais difícil para os negociadores fazer
acordos a portas fechadas e levá-los para receber o endosso automático dos parlamentos”. “Em vez
disso, enfrentam pressões em favor de maior legitimidade popular para suas ações, explicando-as e
defendendo-as em público”, tarefa nada fácil quando as hordas estão preocupadas com a
“segurança social e econômica”, e quando o impacto dos acordos comerciais “sobre a vida das
pessoas comuns... ameaça despertar o descontentamento popular” e “sensibilidades acerca de
questões como padrões ambientais e de segurança alimentar”. Talvez venha a se tornar até
impossível “resistir às exigências de participação direta por parte de grupos de pressão nas decisões
da OMC, o que violaria um dos seus princípios fundamentais”: “Este é o lugar onde os governos
‘conspiram em privado’ contra os seus grupos internos de pressão, diz um ex-funcionário da OMC”.
Se as muralhas forem rompidas, a OMC e outras organizações secretas dos ricos e poderosos
poderão se transformar em “um alegre campo de caça para interesses especiais”: trabalhadores,
agricultores, pessoas preocupadas com a segurança social e econômica, com a segurança alimentar
e com o destino das gerações futuras, além de outros componentes marginais extremistas que não
entendem que os recursos só são eficientemente utilizados quando orientados pelo lucro a curto
prazo para o poder privado, ajudado por governos que “conspiram em privado” para proteger e
aumentar o seu poder.^98
É supérfluo acrescentar que os lobbies e grupos de pressão que estão despertando tanto
medo e consternação não são o Conselho de Assuntos Internacionais dos EUA, “advogados e
homens de negócios” que estão “escrevendo as regras da ordem global” e similares, mas a “voz
pública” que está “invariavelmente ausente”.
A “conspiração em privado” vai muito além dos acordos comerciais, é claro. A
responsabilidade do público em assumir custos e riscos é, ou deveria ser, conhecida dos
observadores como o que seus acólitos gostam de chamar de “economia capitalista de livre
iniciativa”. No mesmo artigo, Uchitelle relata que a Caterpillar, que recentemente usou o seu
excesso de capacidade produtiva no exterior para derrotar uma greve no país, transferiu 25 por
cento da sua produção para o estrangeiro e pretende aumentar as vendas desde o exterior em 50
por cento até 2010, com a ajuda dos contribuintes norte-americanos: “O ExportImport Bank
desempenha um papel significativo na estratégia [da Caterpillar]” , com “empréstimos a juros
baixos” a fim de facilitar a operação. Os empréstimos do banco já representam quase dois por cento
mariadeathaydes
(mariadeathaydes)
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