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26 de agosto de 2020
çAinda há quem queira
ser árbitro?
JFG – Sim. Tem sido feito um
bom trabalho pelos CA dis-
tritais e pelas associações,
em conjunto connosco, bem
como no desporto escolar.
Só no ano passado tivemos
1.300 inscrições espontâ-
neas no site da Federação.
Foram formados 900 árbi-
tros novos. O limite de idade
é até aos 38 anos, sendo que
para subir aos nacionais é de
- O trabalho que tem sido
desenvolvido nos últimos
dois anos tem tido estes nú-
meros significativos. *
“Árbitros sabem
colocar as linhas”
“1.300 inscrições
espontâneas”
çComo é que posso acre-
ditar numa linha de fora-de-
-jogo que me anula ou valida
um golo por 1 centímetro?
JFG – Foi um excelente in-
vestimento da FPF em tec-
nologia. É impossível ao olho
humano tirar um fora-de-
-jogo de 5 cm. Temos uma
máquina que está parametri-
zada, validada e certificada.
+Mas a máquina é operada
por pessoas e vão ser elas a
dizer quando parar e onde
colocar a linha...
JFG – O que podemos garan-
tir é que os parâmetros são
sempre os mesmos. O ponto
estipulado para traçar a linha
é o mesmo. Os árbitros sa-
bem colocar as linhas e colo-
cam todos no mesmo local. *
“Número de penáltis
vai diminuir”
çAo fim de três temporadas,
qual o balanço que faz do VAR?
JFG – Extremamente positivo. Sei
que muitos não concordam, mas a
minha avaliação do crescimento,
tanto de instrutores, como de árbi-
tros, técnicos, é muito positiva. Há
todo um caminho a percorrer, mas
não estamos pior do que outros
países – bem pelo contrário.
+ É difícil que se entenda que haja
erros graves quando alguém vê
num monitor aquilo que toda a
gente vê na TV.
JFG – Às vezes é uma questão de in-
terpretação. Aquilo que foi um pe-
nálti para si pode não ser para mim.
A intensidade de um empurrão
pode ser vista de formas diferen-
tes... Não é por um adepto ter uma
opinião diferente do árbitro que te-
nha havido um erro. Pode aconte-
cer e já aconteceu.
+ E é compreensível?
JFG – É como em todas as profis-
sões: tenho a certeza de que já lhe
saíram palavras mal escritas... Um
árbitro pode não uma câmara que
lhe mostrava o ângulo certo e, com
isso, cometer um erro. Acontece
aqui e acontece em todos os países.
+ Desde que há VAR os penáltis
aumentaram. Era expectável?
JFG – Acredito que com o tempo o
número de penáltis vai diminuir.
Porque os jogadores vão perceber
que há alguém que pode ver uma
segunda vez o que aconteceu. Em
relação à intervenção do VAR, por
vezes o que vemos numa imagem
mais lenta pode induzir-nos em
erro, tal como a fotografia que apa-
rece nos jornais. Este equilíbrio tem
de ser feito, trabalhado e educado,
não só para os árbitros como para o
público em geral.
+ A sensação que fica é de que, por
vezes, estão a ser assinalados pe-
náltis por toques mínimos.
JFG – Não da parte dos árbitros.
Acontece nas análises de pós-jogo
de quem comenta. As instruções
dadas aos árbitros é deixar jogar,
bem como só assinalar penáltis
quando o toque tiver uma conse-
quência na ação do atacante.
+ Tem uma equipa de VAR espe-
cialistas, mas raramente são no-
meados para jogos grandes. Não
são assim tão especialistas?
JFG – Fomos criticados quando
criamos esse grupo e isso está a ser
feito por outros países. Têm sido
utilizados outros nos jogos grandes,
como o Tiago Martins, que tem sido
instrutor FIFA e é o que tem mais
experiência, treino e formação na
área do vídeo-árbitro. Aqueles que
nos derem mais garantias são os
que estarão nesses jogos.
+ Faz sentido pegar em árbitros
que foram despromovidos e fazer
deles especialistas de VAR? É um
prémio que lhes está a dar, não?
JFG – Faz todo o sentido se nós lhes
reconhecermos qualidade. Se tiver
uma época menos conseguida, não
quer dizer que esse árbitro deixe de
ter qualidade após ter andado na 1ª
categoria durante 10 ou 12 anos. *
çVai reintegrar os árbitros –
Gonçalo Martins e Jorge Oliveira
- que estão a vencer processos na
Justiça por causa das descidas?
JFG – O modelo de avaliação im-
posto há quatro anos por este CA
leva a que os árbitros que estejam
menos bem nessa época desçam
de categoria. Foi o caso desses
dois árbitros nessa época. No caso
de Gonçalo Martins, isso também
aconteceu no Campeonato de
Portugal, onde também não
mostrou qualidade. Isso deve ser
aquilo que deve nortear os árbi-
tros, para que tenhamos uma ar-
bitragem boa de primeira catego-
ria. Aquilo que for uma
decisão administrativa
de um tribunal terá de ser
acatada pelo CA. Isso não
quer dizer que a decisão
do tribunal seja pela qua-
lidade dos árbitros, mas
sim por uma questão ad-
ministrativa.
+ Serão nomeados para jogos,
como qualquer outro árbitro? Sa-
bendo que, segundo o CA, não
mostraram qualidade para estar
nesse lote?
JFG – O tratamento será igual ao
de todos os árbitros, serão avalia-
dos todas as semanas. Se tiverem
qualidade para estar presente nos
jogos seguintes, estarão.
+ Neste processo, houve deci-
sões sucessivas de tribunais
que declaram ilegais os critérios
de classificação daquela tempo-
rada. Isto não afeta a credibili-
dade do CA?
JFG – Foi um processo
claro e transparente
para todos os árbitros,
resultante da vontade
de todos. O modelo ava-
liativo resulta de uma
vontade comum: do CA
e dos próprios árbitros.
Todos entendemos que
aquele é o melhor pro-
cesso. Na altura, con-
cordámos que não ha-
veria classificação exte-
rior durante a época.
+ Mas os critérios não
foram divulgados.
JFG – Não foram porque os árbi-
tros não quiseram e assinaram
uma declaração a dizer que não
queriam. Depois disso não tive-
mos mais nenhuma reclamação,
porque não puderam pegar em
questões administrativas. Essa é a
única questão: a publicação dos
critérios de avaliação, sendo que
esses critérios eram conhecidos
pelos árbitros.
+ Não teme que, perante deci-
sões assim de um tribunal, fique a
sensação de que há um ‘arranji-
nho’ para escolher os árbitros
que ficam e que descem?
JFG – Pode pensar isso quem não
conhecer o processo. A avaliação
foi exatamente igual durante os
quatro anos, a única diferença foi
que dessa vez não publicámos a
classificação nem as normas de
classificação para o exterior no
início. Porque, e isto é bom que fi-
que claro, os árbitros não quise-
ram, assinando uma declaração.
Nessa altura, o que árbitros não
queriam era que existisse classifi-
cação. Fizemos uma avaliação in-
terna. *
“Reintegração não
será pela qualidade”
“DESPROMOVIDOS FICAREM
COMO VAR? FAZ TODO
O SENTIDO SE LHES
RECONHECERMOS QUALIDADE”
CONVERSA. Fontelas Gomes com Record
ENTREVISTA JOSÉ FONTELAS GOMES