entre dois problemas que, segundo ele, ligam-se somente por uma co-
nexão contingente, isto é, a questão de saber por que os primos cru-
zados podem se casar não tem para ele absolutamente nada a ver com
a questão de saber por que os primos paralelas não podem Estas ques-
tãos, para ele, são tão nitidamente distintas que as estuda em dois ca-
pítulos separados, apelando, para explicar a preferência e a proibição,
para dois tipos diferentes de interpretação Frazer não hesita em uni-
versalizar as constatações fornecidas pela sociedade australiana. "É razoá-
vel supor que, em todas as tribos australianas que permitiram ou favo-
receram o casamento entre primos cruzados, este tipo de casamento
nasceu como conseqüência direta da troca das irmãs, não tendo outra
explicação. É razoável também supor que a troca das irmãs decorre
diretamente da necessidade econômica de pagar uma esposa em espécie,
noutros termos, de retribuir uma mulher pela mulher que o próprio
indivíduo recebeu em casamento". Como o casamento por troca é dado
em conexão com o casamento dos primos cruzados em numerosas QU-
tras sociedades, como por exemplo os Madiga e os Idiga de Missure,
várias tribos de Barwani e do distrito de Almora, nas Províncias Uni-
das da tndia, e também em várias tribos do Assam e do Beluchistão, e
como, por outro lado, o casamento unicamente por troca é uma ins-
tituição largamente espalhada entre os indígenas das ilhas ocidentais do
estreito de Torres, entre os Mowat, os Banaro da Nova GUiné, em BUin,
entre os Pededarimu de Kiwai, os Santal de Bengala, os Senufo e os
Mossi do Sudão, em Sumatra, e finalmente na Palestina moderna, po-
de-se concluir que, do mesmo modo que entre os Kariera da Austrália,
entre os quais a conexão é particularmente manifesta, "o casamento dos
primos cruzados decorre de maneira simples e direta, e por um encadea-
mento muito natural, da troca das irmãs em vista dos intercasamentos". ~
Mas como pode ter acontecido que Frazer, tendo assim estabele-
cido o princípio fundamental de explicação, logo em seguida o abandone
a pretexto de que este princípio é insuficiente? Declara, com efeito: "En-
contramos uma resposta à questão de saber por que o casamento dos
primos cruzados tão freqüentemente é considerado com uma dispOSição
favorável. Mas resta-nos sempre encontrar a resposta à questão de sa-
ber por que o matrimônio dos primos paralelos é tão freqüentemente
proibido".9 Ora, conforme veremos, esta segunda resposta não somente
nada tem a ver com a primeira, mas parece mesmo que, ao propô-la,
Frazer fechou-se em uma rede de contradiçôes e perdeu todo o terreno
que a atitude precedente lhe tinha feito conquistar de maneira tão vi-
toriosa. Mas indaguemos primeiramente por que a troca, que nos pare-
ceu permitir a dedução imediata da dicotomia dos primos, parece a Fra-
zer referir-se exclusivamente aos primos cruzados, e nada ensinar a res-
peito dos primos paralelos.
Há duas diferenças fundamentais entre a concepção que Frazer tem
da troca e a que propomos. Estas diferenças resultam ambas do fato
de, para nós, a troca ser somente um aspecto de uma estrutura global
de reCiprOCidade que é Objeto (em condições que falta ainda determinar
com exatidão) de uma apreensão imediata e intuitiva por parte do ho-
- Ibid., p. 209.
- Ibid., p. 221.
176
J