que os outros fenômenos naturais. Observam fatos alguns dos quais são
conhecidos, enquanto outros escapam à sua atenção ... Os fenômenos so·
ciais podem existir e atuar sem serem Objetos de conhecimento". 10
Por outro lado, a descoberta da lei do casamento preferencial com
a filha do irmão da mãe apresenta uma importãncia que excede de
muito a discussão exclusiva do problema Murngin. Os povos que pra-
ticam o casamento dos primos cruzados manifestam em grande maioria
preferência pela prima matrilateral. Como fizemos da análise do casa·
mento dos primos cruzados a experiência crucial do problema da proi·
bição do incesto, não podemos nos dispensar de explicar uma singula·
ridade tão notável. Finalmente mostramos que a série australiana clás·
sica das dicotomias sucessivas entre cônjuges preferidos e cônjuges proi·
bidos contém uma lacuna, e devemos procurar se a lei do casamento
preferencial com a prima cruzada matrilateral não fornece o termo que
falta, cuja posição na série as anomalias dos sistemas clássicos revelam,
mas são por si mesmos incapazes de definir.
Consideremos os três sistemas clássicos australianos, metades, seco
çôes, subsecçôes. Estes três sistemas apresentam uma estrutura funda·
mental, que permanece a mesma apesar da diferença do número das
classes. Este caráter comum, peculiar aos três sistemas, pode ser formu·
lado da seguinte maneira: quer a classe considerada seja uma metade.
uma secção ou uma subsecção, nela o casamento se processa sempre
de acordo com a regra, a saber, se um homem de A pode casar·se com
uma mulher de B, um homem de B pOde casar·se com uma mulher de
A. Há, portanto, reciprocidade entre os sexos no interior das classes. Ou,
se preferirmos, as regras do casamento são indiferentes ao sexo dos
cônjuges. O que é verdade quanto às regras do casamento não é evi·
dentemente válido para as regras de filiação, mas não temos necessidade
de examinar estas últimas neste momento.
Chamamos os sistemas que apresentam este caráter, seja qual for
o número das classes, sistemas de troca restrita. indicando com isso
que estes sistemas só podem fazer funcionar mecanismos de reciproci·
dade entre parceiros cujo número é dois ou múltiplo de dois.
Dai resulta imediatamente que um sistema de duas metades exo-
gâmicas deve ser sempre um sistema de troca restrita. Com efeito, se
nos limitamos a dois grupos A e B, e se o casamento é impossível no
interior de cada grupo, a única solução para A é procurar cônjuge em
B, e para B, reciprocamente, procurar cônjuge em A. Mas o que é ver·
dade para um sistema com duas classes deixa de sê-Io num sistema com
quatro classes. Em um sistema com quatro classes exogãmicas temos
com efeito a escolha entre duas possibilidades teóricas. A primeira é
realizada pelo sistema Kariera, isto é, as classes são distribuídas em
dois pares, cada qual regidO por uma lei de troca restrita. O laço entre
os dois pares é assegurado pela filiação, visto que os filhos de pals
que são do domínio de um dos pares pertencem sempre à secção do
outro par. Um homem A casa·se com uma mulher B (par n. O, os filhos
- S. M. Shirokogoroff, The Psychomental Complex of the Tungus, p. 104.
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