Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

chiwalker esposa mari (não uma mari que seja a mãe da mãe); gawel
esposa uma mokul afastada, e, à esquerda do Ego, dumungur casa-se
com uma outra kutara e waku com um outro gurrong". 1 f


[Esta passagem pode interpretar-se de diversas maneiras_ Ou esta-
mos em face de uma simples extensão da nomenclatura, e os termos
em questão não têm outra função senão diferenciar "aliados", de um
lado, e "aliados de aliados" de outro lado, isto é, linhagens segundo
pertençam a uma ou a outra metade, ou então referem-se a reais encer-
ramentos do ciclo das trocas matrimoniais. Neste últImo caso seria pre-
ciso, para poder interpretar exatamente as indicações de Warner, con-
firmadas por Elkin (1953) e Berndt (1955), possuir informações demo·
gráfiCas - que nos faltam - sobre a estrutura empirica dos ciclos de
troca entre os Murngin. Porque o modelo teoricamente circular, suposto
pela regra do casamento com a prima matrilateral, na prática pode ser
ou decomposto em vários ciclos ou indefinidamente prolongado. Volta-
remos a este assunto mais adiante. Enquanto não possuirmos informa·
ções mais exatas sobre as modalidades empíricas dos ciclos matrimo·
niais, estaremos reduzidos a hipóteses sobre a estrutura empírica do
sistema, e é com esta ressalva que são apresentadas as observações
seguintes].
Vimos que o sistema de parentesco Murngin apela para sete linha-
gens, enquanto que o sistema Aranda contenta-se com quatro (a do
pai do pai, que é a linhagem do Ego; a do pai da mãe; a do Irmão da
mãe do pai; e a do Irmão da mãe da mãe), e o sistema Kariera conten·
ta-se somente com duas (a do pai do pai, que é a linhagem do Ego,
e a do pai da mãe). Esta proporção conserva-se no número de termos
de parentesco utilizados em cada sistema. Enquanto o sistema Kariera
apela para vinte e um termos de parentesco diferentes, o sistema Aranda
emprega quarenta e um e o sistema Murngin setenta e um. Como acon-
tece que o sistema Murngin, que realiza uma dicotomia intermediária
entre a do sistema Kariera e a do sistema Aranda, exige um número
de termos de parentesco quase duplo do número do sistema mais
complexo?
Encontramo-nos aqui em presença de uma dificuldade exatamente
análoga à que encontramos ao comparar os diferentes sistemas de clas-
ses. Verificamos nesse momento que o sistema Aranda parecia resultar
do desdobramento do sistema Kariera, e que, entretanto, um estádio
necessário da dicotomia progressiva dos cônjuges era saltado quando se
passava de um a outro. Agora, verificamos que existe também uma re-
lação entre o grau de dicotomia realizado e o número de termos de
parentesco utilizados. O sistema Aranda, que divide em dois a divisão
dos cônjuges operada pelo sistema Kariera, tem também duas vezes
mais termos que este último. Logicamente, portanto, o sistema Murngin,
cuja dicotomia é intermediária entre os dois, deveria também pos.uir
um número de termos de parentesco intermediário. Ora, possui setenta
e um, ou seja, um número consideravelmente superior ao que a análise
teórica permitiria prever. Esta dificuldade é insolúvel enquanto procu-
rarmos fazer do sistema Murngin uma modalidade do sistema Aranda,



  1. lbld., p. 211.


226

Free download pdf