marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 231

Edson – Outra coisa, como se davam essas reuniões do partido
em sua casa. Como era o clima? Como era isso para a sua família?
Marcos – Com a idade que eu tinha (cinco, seis anos), é óbvio
que eu não tinha condições nem de saber o que eram essas reuniões.
Despertavam minha curiosidade normalíssima, porque eu não podia
entrar e nem sequer falar com meu pai. Como o apartamento era
pequeno e a sala, devassada, tais reuniões ocorriam no quarto onde
eu dormia, ao lado de minha avó, que vivia conosco. O outro quarto
era de meus pais. Pelas minhas lembranças, não havia parede entre
ambos, sendo separados por um grande armário (um guarda-roupa)
que não chegava ao teto. Moleque curioso, cheio de energia, pois
quase não podia sair à rua para brincar e nem ter amigos em casa, por
questões de segurança, subi várias vezes em cima desse armário para
ver a reunião do outro lado. Levava cada bronca! Só deixei de fazê-lo
quando, certa feita, utilizando as gavetas do armário com escada, acabei
por desequilibrá-lo, o que fez com que caísse por cima de mim. Pode
imaginar a confusão. Mas, além dessas reuniões “político-confiden-
ciais”, as reuniões de domingo eram também muito comuns. Eram
reuniões festivas, nas quais a minha avó era perfeita anfitriã. Minha
mãe, também militante (não muito ativa), convidava as companheiras
que faziam parte do Comitê Feminino. Era o dia dos companheiros
mais chegados, dos amigos íntimos, dos parentes também militantes.
Dentre eles, Celito, Armênio, Rui Facó, Zuleika d’Alembert...


Edson – Marighella ia?
Marcos – Que eu me lembre, poucas vezes.

Edson – Nesse momento de confraternização, já que a reunião de
domingo era uma confraternização, não se discutia política?
Marcos – Política era, evidentemente, um assunto que voltava
constantemente à baila, mas em dias de festas era levado na brinca-
deira. Afinal de contas, éramos uma família.

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