marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
232 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Edson – E o temperamento de Marighella junto a sua avó?
Você havia enfatizado, antes de gravarmos seu depoimento? Como
o definiria?
Marcos – Carinhoso e brincalhão. Marighella, assim como Gra-
bois, era um brincalhão. Ambos estavam sempre rindo, contando
piadas, jogando conversa fora de maneira agradável.


Edson – E sua avó tinha certo apreço por ele?
Marcos – Tinha. O que não posso, no entanto, responder é se
esse apreço era efetivamente correspondido, pois era muito pequeno
para discernir sutilezas comportamentais. Era perceptível, no entanto,
mesmo para mim, que alguns entravam, cumprimentavam ligeira-
mente, trancavam-se na reunião e, muitas vezes, saíam sem sequer
se despedir, enquanto outros eram mais chegados. É evidente que os
frequentadores lá de casa tinham a política partidária como modo de
vida e, possivelmente, não davam muita importância aos códigos de
sociabilidade, considerados veleidades “burguesas”; entravam sisudos
e sisudos saíam: “Boa Tarde!” “Boa Noite”! Nenhuma conversa, ne-
nhuma aproximação além da reunião. Outros, no entanto, sabiam
que o Partido não era escusa para atividades antissociais; tinham
um comportamento mais amistoso e carinhoso. Chamavam minha
avó de tia, cumprimentavam-na: “Cadê dona Caçula?”, pois ela era
conhecida assim, até mesmo pela família, embora seu nome fosse
Haydée. Iam abraçá-la, perguntar pelos seus doces e bolos. Entre eles,
estavam Mariga, Pomar e Apolônio.


Edson – Havia muita diferença do tratamento dado pelos três
à sua avó?
Marcos – Todos os três chamavam minha avó de “tia Caça”, assim
como suas mulheres e as amigas de minha mãe. Entre as mulheres,
aliás, muitas a tratavam quase com uma segunda mãe: buscavam
conselhos, carinho, compreensão para seus problemas existenciais.

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