marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1

ANA MONTENEGRO*


Ana Montenegro – Certa vez eu disse ao Marighella: “Você não
pode tomar esse caminho, lembre-se do que disse Lenine, que a re-
volução não é obra de algumas pessoas, mas de milhões”.
Ele disse: “Ana você tem que me entender, eu estou cansado de
ficar na praia esperando a onda”.
Eu disse: “Você se lembra daquele trecho de um texto meu? Tinha
uma pedra lá na praia que as ondas não deixaram sair. Ela ficou lá
para sempre”.
Ele disse: “Mas eu vou vencer, você sabe que eu deixo a pedra aí
e volto, mas para outra praia, não esta, pois eu já estou cansado de
ficar nessa praia”.
Eu achava Marighella especial, muito especial, pelas respostas
filosóficas e humanas que ele dava. Eu fui para a Europa e estava para
voltar, e me encontrei com alguns companheiros, lá na Itália, mas de-
morei muito, não cheguei no dia certo e o pessoal me criticou por isso.


  • Este depoimento foi realizado no dia 6 de novembro de 1998, em Salvador, com
    Ana Montenegro, militante do Partido Comunista Brasileiro.

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