marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
236 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

que as crianças nascem para serem felizes, então, elas merecem isso
que fez o Picasso, porque o que ele fez foi a pomba da paz levando
flores para todas as crianças.
Eu sempre perguntava pelo filho dele, o Carlinhos, você sabe a
história do Carlinhos? A mãe dele não pôde registrar imediatamente o
menino, por que não pôde registrar o menino? Porque ele estava ilegal.
Outra coisa que eu quero dizer de Marighella, isso eu tenho
muita vontade de contar, quando houve essa discussão, não sei se
a palavra é essa, você que vai me dizer, sobre o Partido Comunista,
quando o Partido Comunista se dividiu entre os que eram a favor
da luta armada, eu estava em Paris, ele foi a Cuba e lá, em 1967, eu
pensei que ele nunca se encontrasse comigo, porque nós tínhamos
ideias diferentes a respeito da luta. Passei por Cuba para ir a um
seminário do trabalho que eu fazia na América Latina, ele soube do
que eu pensava e disse: “O que é isso? Se eu for à Europa a primeira
pessoa que eu pergunto é por você”. Ele disse: “Amizade é uma coisa
Ana. Os princípios, outra”.
Ele disse: “Se eu quero um pequeno caminho diferente e você
quer um caminho diferente, a amizade faz com que esses caminhos
se juntem, você pensa que a amizade de tantos anos, a solidariedade,
o nosso conhecimento, você se preocupava até com a camisa que eu
ia vestir, queria saber se eu tinha camisa para o Natal, queria até saber
o número do meu sapato, como é que eu vou deixar de ter amizade
com uma pessoa dessas? Os meus princípios não acabaram, nem os
seus, apenas você sabe que para se chegar a um lugar, o lugar que nós
queremos, o socialismo, os caminhos podem ser diferentes, mas nós
seremos conduzidos pelos mesmos transportes”.
Eu me lembro dessa palavra.


Edson – Como ele retribuía a amizade com a senhora?
Ana – Retribuía desse jeito, com essas conversas, com esse con-
tato, com tudo isso, ele passou a ser a pessoa a quem eu levava meus

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