marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 285

Brasil e Itália, não me lembro o ano, era uma decisão do campeonato
mundial. Ele acompanhava o jogo todinho, falava sobre o jogo e estava
defendendo a Itália (risos), porque a ideia era a seguinte, se o Brasil
ganhasse ia reforçar o apoio popular à ditadura, eu não entendia bem
isso. Eu dizia: “Bom é o Brasil ganhar, Marighella”.
Ele dizia: “Não. Se o Brasil ganhar vai reforçar essa merda aí, vão
ficar todos eufóricos”. Não foi com a seleção do João Saldanha, eu
vou ter que ver a data. Não me lembro agora, mas vou ver pra você.
Mas, então, ele era um homem que não era preso à questão polí-
tica, porque tinha outros companheiros do partido que na conversa
com você só conversava sobre política, 24 horas por dia. Ele gostava
muito de fazer poesia; às vezes, a gente estava numa reunião durante
o dia, a discussão estava rolando e parecia que ele estava desligado.
De repente ele pegava um papel e fazia a intervenção dele naquela
poesia que havia feito, sobre o assunto político que estava se tratando.
Ele era um quadro especial.


Edson – Ele gostava de música?
Geraldo – Gostava!

Edson – Como era essa relação dele com a música?
Geraldo – Eu sei que ele gostava, citava nomes de artistas. Ele
era um cara diferente dos outros dirigentes do partido, mais ligado
ao que acontece na vida, ao que acontece no real: o povo é uma coisa
e a doutrina é outra. Por isso mesmo é que eu admiro porque ele
entrar nessa linha da luta armada, era um negócio que o povo não
estava engajado.


Edson – O Marighella que você conheceu em 1950 guarda uma
diferença muito grande do Marighella em 1964?
Geraldo – Ah! Uma diferença muito grande, sem dúvida. Embora
as qualidades dele não tivessem se alterado em nada, o que mudou

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