marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
286 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

foi a compreensão política do Brasil real naquele momento. Aí nós
tivemos as nossas divergências políticas aprofundadas, mas sem ne-
nhuma alteração pessoal. A nossa despedida eu nunca me esqueço.


Edson – Sobre o XX Congresso do Partido Comunista da URSS,
a relação com os crimes de Stalin. Você teve contato com o Marighella
nesse período?
Geraldo – A posição dele não foi uma posição que se esperava.
Houve um grupo de companheiros que até saíram do partido. O
Marighella não, ele compreendeu aquilo e aceitou as mudanças. Foi
exatamente aí que surgiu a ideia de se fazer mudança do nome. Ele
comandou, pode-se dizer assim, pela Executiva, toda a atividade do
partido para a coleta de assinatura para efetivar a mudança do nome.
Ele teve uma participação fundamental, isso já compreendendo a nova
situação e condenava o estilo do Stalin, quer dizer, o comportamento
do Stalin era exatamente o contrário do que poderia parecer.


Edson – Ele chega a comentar algo relacionado às prisões por
que ele passou?
Geraldo – Não. Comigo ele nunca falou sobre isso não. Eu sabia
do comportamento dele na prisão mais pelo relato de outras pessoas.
Ele mesmo se vangloriando não; ao contrário, tinha um comporta-
mento muito modesto.


Edson – Uma curiosidade que eu tenho, quando a irmã dele me
deu uma entrevista, ela disse que Marighella não bebia e não fumava.
Geraldo – Fumar eu não nunca vi ele fumar. Agora beber, também
não digo que ele bebia, eu não via isso. Agora eu fui a uma celebrida-
de com ele, numa ocasião, foi na casa de um embaixador soviético,
aqui, se não me engano foi na casa do Oscar Niemeyer, o problema
é a data. Vários representantes do partido estavam lá, e ali eu fiquei
admirado porque ele tomou um bocado de uísque lá (risos). Nessa

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