marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
294 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

ficar preocupado em garantir a retaguarda dele, teria sido o correto
do ponto de vista da guerra, porque a liderança dele, a experiência
política, nós não tínhamos. Quer dizer, a visão dele do sistema, do
que nós estávamos enfrentando e da nossa força, Marighella tinha
essa noção exata que hoje eu tenho, mas na época esses aspectos, era
muito difícil com 20 e poucos anos ter essa noção que só a experiên-
cia da vida vai dando para você. Nós achávamos que ele devia se
preservar, eu sempre dizia para ele: “Pô Marighella”... E ele: “Que
nada, o inimigo quando pensa que nós estamos longe, nós estamos
perto”. Nós estávamos passando perto de um quartel! Enfrentamos
algumas complicações, algumas batidas, ele com a calma de sempre:
“é por aqui, é por ali”. Era uma pessoa extremamente carismática,
eu não conheci ninguém mais carismático do que o Marighella, por
tudo isso e sempre falando coisas interessantes...


Edson – Sobre o que ele falava?
Carlos – Primeiro ele procurava transmitir o máximo com relação
às possibilidades da luta, da guerrilha. Ele fez aquele documento dele
e conversava a respeito. E depois também conversava, por exemplo,
sobre a clandestinidade, as preocupações com a formação, conver-
sando sempre sobre a necessidade (risos) de nós nos preservarmos,
quer dizer, ele estava sempre preocupado com a nossa segurança, ele
tinha essa preocupação.


Edson – Não era só vocês entrarem na luta armada.
Carlos – Era, exatamente, nós nos formarmos enquanto quadros
para uma guerra de longo prazo. E daí uma pessoa que era preocupada
com a nossa segurança. Ele superqueimado, o mais procurado, estava
preocupado com o Carlos Fayal, o Flávio Molina. Ele dizia: “Vocês
tem que ir para Cuba, estão queimados, vocês tem que se formar a
gente vai precisar de uma pessoa com experiência aqui”. E as outras
coisas sempre voltadas para a política, que eram as nossas proximida-

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