304 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
Carlos – Não. Ele nos alertava com aquelas frases dele: “Isso não
é um desfile na passarela”.
Edson – Este depoimento é muito útil para confrontar com quem
faz crítica à luta armada.
Carlos – Quem não acompanhou, não vivenciou, de uma forma
consciente, o que estava se passando no Brasil e na América Latina
é que pode falar um negócio desses. Eu acho o contrário. Eu acho
aquilo que eu já te falei. Acho que nós não soubemos aquilatar a nossa
força. Uma visão exatamente o contrário disso que se fala.
Edson – A morte de Marighella desarticulou, um pouco, a ALN?
Carlos – Não, desarticulou um pouco não, desarticulou muito.
Edson – Qual o efeito dessa morte?
Carlos – Foi um efeito bombástico, por quê? O pessoal, como
eu já falei, mais experiente, se capacitando lá em Cuba, estava em
Cuba no momento da morte, inclusive o Toledo, que era o segundo
da organização. Aqui no Rio foi justamente onde se desarticulou
menos, em termos de organização propriamente dita. Em São Paulo
deve ter sido muito maior, vou lhe dar um exemplo prático: o nos-
so pessoal do Rio, que eu articulei a ida para São Paulo, foi quem
assumiu a organização em São Paulo, durante um período crítico; o
Carlos Eugênio, o José Nilton e outros. Estava tão desarticulada, em
São Paulo, que eles acabaram assumindo depois da morte do Toledo.
Agora, o impacto maior, na verdade, foi nesse sentido: que aquela
nossa força, quem teria condição de transformá-la em força real de
luta era o Marighella. A nossa força resistiu o maior número de tempo
possível, com o maior sacrifício, de perdas humanas para poder ver
se ganhávamos um fôlego, para poder ver o que estava acontecendo e
acabamos perdendo militarmente, mas deu uma sobrevida de quatro
anos, uma sobrevida dramática de quatro anos. A morte do Marighella