EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 333
Edson – As palavras de ordem contra a ditadura?
Roberto – Lá não. Nós fizemos sempre isso, mas nesse dia não,
senão o pessoal podia descobrir que a gente estava no hospital, nós
saímos e a polícia chegou. Teve coisas assim de segundos.
Edson – E como o Marighella se comportava nesse cerco, nesse
exemplo que você deu?
Roberto – Ele era o cara mais tranquilo do mundo. O Marighella,
eu acho que é um troço meio forte o que eu vou falar, ele era louco,
porque o cara que não tem medo é louco, ele não tinha medo. Olha,
um puta de um troço do exército fechando a rua, e eu subindo, ele
atrás com três caras, num fusca meu mesmo, eu guiando com um
outro cara do lado, passa um carro com um bando de caras superar-
mados, eu acho que eles desconfiaram quando passou aquele bando
de gente no mesmo carro, ficaram olhando, olhando pra gente e ele
tirando sarro. Eu tremendo, quase não conseguia guiar, e ele tirando
sarro dos caras: “Tão perto e tão longe” – ele falava – “olha se eles
soubessem, hem?” Estava todo mundo armado ali.
Edson – Ele para vocês ouvirem.
Roberto – Falava para nós dentro do carro, baixinho, tirando
sarro. Ele é o único cara que eu conheci que não tinha medo de porra
nenhuma. Um dia, eu quebrei um puta pau com ele, aqui tem uma
rua chamada Teodoro Sampaio, num bairro conhecido, Pinheiros,
ela termina num largo, onde tem uma igreja. Eu fui a um ponto com
o Marighella ali, um troço perigoso, eu não gostava daquele ponto,
inclusive depois ele mudou, era muito perto do largo e não tinha
saída, a única coisa que tinha era passar no largo. O largo era um
pepino que vivia tendo batida do exército. Você imagina que eu chego
no ponto – eu nunca cheguei atrasado, eu chegava rigorosamente no
horário – o Marighella está em cima de uma banca de jornal fazendo
um discurso (risos). Você imagina, eu com arma no carro...