334 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
Edson – Que hora foi isso?
Roberto – Quatro horas da tarde. O que aconteceu? Deram uma
batida, tinha um bar, eles foram lá e baixaram cacete nos caras. Ele
ficou revoltado, foi lá, esperou o pessoal sair e meteu bronca (risos).
Você tem alguma fotografia do Marighella? O Marighella era um
cara de dois por dois, muito maior que eu, ele era ridículo, colocava
uma peruca. Para você ter uma ideia, eu conheci o Marighella, dois
meses depois que eu conheci o Marighella, estive três ou quatro vezes
com ele só, eu estou em frente do Mappin, você conhece a cidade?
Em frente o Mappin tem a Rua Xavier de Toledo e no fim é a Praça
da República, tem uns quatro quarteirões essa rua, você imagina que
eu estou aqui no Mappin e estou indo para lá encontrar com ele, eu
vejo ele entrar aqui, reconheci ele há quatro quarteirões. Ele era um
mulato de dois por dois, o braço dele era deste tamanho, com uma
peruca que se dividia no meio, uma peruca preta, então, ele não se
disfarçava, nunca que um homem daquele (risos), com uma peruca
repartida no meio. E ele na cidade comprando livro, entrando na
livraria. Ele era foda!
Edson – Nesse contato, ele tinha algum tipo de preocupação
com vocês?
Roberto – Ele tinha muita preocupação com a gente, ele não
queria expor a gente. Ele achava que a ação, seguindo a norma da
guerrilha, a gente tinha que ter todas as vantagens possíveis, se faltasse
algum item era para cair fora. A primeira coisa era a surpresa, nós
tínhamos que ter uma surpresa. Nós tínhamos que ter uma condição
de fogo que não podia estar tão abaixo que a do adversário, se possível
sempre maior, mas era impossível isso para a gente. O pessoal fez a
loucura de assaltar quartel, se você ler aquele livro daquele cara carioca
que depois ficou aqui na organização...
Edson – O Carlos Eugênio?