EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 335
Roberto – O Carlos Eugênio vai dizer o seguinte: que nós come-
çamos a deixar de ganhar quando deixamos de seguir aquelas regras de
segurança, porque esse negócio de atuação clandestina dá uma força
interior fudida, você começa a se achar superior a todo mundo, por
exemplo, você pega uma rua e tinha uma barreira, saía um cara com
uma arma e um cara com uma metralhadora, os caras corriam com
medo da gente. Isso foi dando uma força, todo mundo se achava
meio super-homem, chegava um cara e propunha: “Vamos fazer uma
ação assim?” “Vamos”. “Mas o que é isso?” “Você tem levantamento?”
“Não tem.” “Tem elemento surpresa?” “Não sei.” Quer dizer, nada
era obedecido.
Edson – Vocês superestimaram a força que tinham?
Roberto – Isso mesmo, você vê, o Marighella sempre falava pra
gente. Muito, muito. Quando se reunia muita gente, esse pessoal do
GTA, ele falava para a gente: “Olha vocês tomam cuidado, vocês tem
que ser frios, tem que analisar, tem que ter todas as condições, esse
negócio do ponto, não tem que ter sentimentalismo”. Na realidade
alguns caras namoravam alguma menina, aí chegava no ponto com
uma menina, era o seguinte: você tinha que chegar no máximo um
minuto antes ou dois minutos depois, se não, se manda; o cara não
chegava dez minutos depois, o Jeová, que era um puta quadro da ALN,
era um geólogo da USP, não se formou, era um cara que tinha dois
metros de altura, você via o Jeová de tudo quanto era lugar, “lá vem o
Jeová”; Por que caiu? Ele marcou com um cara um ponto numa hora,
o cara foi preso uma hora antes, apanhou, aguentou quarenta minutos,
abriu o ponto. Em 40 minutos tem que abrir mesmo, é muita porrada.
Vai lá e o Jeová está lá no ponto, uma das maiores lideranças da ALN.
Edson – Era a orientação do Marighella?
Roberto – Claro. Cadê o um minuto, dois minutos que você tem
que ficar ali e se mandar? E se mandar para longe, não ficar para ver