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OLHAR PSICANALÍTICO
informal de conhecimento, foram es-
tigmatizadas e vistas como alienadas.
No último decênio, gradualmente
instalou-se uma interessante modifica-
ção proveniente – sob essa óptica – da
necessidade de constituir locais mais
humanos de convivência. O bordado,
como outras práticas manuais, alcançou
um lugar destacado em virtude de favo-
recer uma lenta e gradual inserção num
universo onde a pressa cede lugar ao
tempo das memórias, espaço favorável à
expressão da criatividade.
A indagação de Freud foi o fio con-
dutor dessa reflexão, motivando algu-
mas considerações sobre o que instiga-
ria, hoje, a busca de tantas mulheres por
esses ambientes de compartilhamento
de experiências.
Atualmente, as mãos que gerenciam
empresas, governam o país ou discutem
busca, uma vez que o processo produ-
tivo gera uma dissociação no sujeito: a
repetição mecânica das tarefas requer
um distanciamento de si mesmo para
preservação da saúde. Tal ruptura em-
brutece e pode ocasionar graves enfer-
midades psíquicas.
Vale ressaltar que a óptica do siste-
ma capitalista recai numa relação quan-
titativa visando à obtenção do lucro. A
atividade recorrente de uma produção
em massa destitui o indivíduo de sua
subjetividade, tal como representado
na célebre cena do filme Tempos Moder-
nos, onde o ator aperta parafusos numa
linha de produção até o momento em
que, sem parafuso algum, ele repete o
gesto como um robô. A cena condensa
exemplarmente, em termos de adoe-
cimento, o que uma ação sem sentido
pode originar, uma vez que, segundo
José Bleger: “Toda conduta refere-se
sempre a outro. A relação com as coisas
é sempre um derivado da relação com
as pessoas, das relações interpessoais;
os objetos são sempre mediadores que
se carregam das relações humanas” (A
Psicologia da Conduta, p. 80).
Portanto, é possível trabalhar
com a suposição de que um vínculo
O acúmulo de responsabilidades
ocasionou o abandono das habilidades
manuais, executadas com maestria pelas
gerações anteriores. Perdeu-se um importante
espaço de convívio, quando as conversas
fluíam entre as cores de amorosos diálogos
os rumos da economia são as mesmas
que fiam, tricotam, pintam e bordam,
levando à indagação: o que produzem es-
sas modernas Penélopes quando se dedi-
cam, em suas horas de lazer, a elaborar
delicadas produções artesanais? Qual o
conteúdo subjacente às cores e texturas
com os quais matizam os tecidos?
A nosso ver, o que elas transpõem
para o pano é um resumo da própria
história, recortes de lembranças essen-
ciais, recuperação das raízes, registro
da ancestralidade. Nessa teia subjetiva,
as linhas são o veículo com o qual fixam
sua narrativa.
O ser e o fazer
E
ssa indagação parece a chave para
se esboçarem algumas conside-
rações. Em primeiro lugar, o sistema
vigente é o maior responsável por essa
Enigma
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