me no trabalho habitual. E nem preciso dizer que levar
Sísifo foi a tarefa mais prazerosa que já executei; e olha
que levo gente a rodo, todos os dias, e desde que o
mundo existe!
- Agora, acompanhem o meu raciocínio: Se pelo fato
de ter sido aprisionado por um certo tempo, não só não
pude arrastar Sísifo comigo, como também fiquei
impedido de levar para junto de Hades qualquer outro ser
vivente sobre a Terra, imaginem o que acontecerá à
moral de vocês quando eu me for para sempre? Quem
morrerá pela peste? Quem falecerá pela fome? E quem
tombará pela guerra? Ninguém. E nunca mais!
A guerra confirmava, assim, o que há pouco
deduzira. E abaixava a cabeça, cerrava os lábios, e
embainhava a espada.
Por sua vez, a fome deixava cair ao chão sua balança,
e a peste tornava lasso o seu arco.
Tais atitudes eram saboreadas pela morte como
verdadeiros manjares olímpicos, o que aumentava a sua
firmeza e o gosto pelo revide. E ela prosseguia:
- É claro que uma doençazinha aqui, uma
privaçãozinha ali, e uma briguinha acolá continuarão a
existir; não menoscabo nem desaprovo. Mas o pavor que
vocês incutiam, a desolação que vocês espalhavam, e a
destruição que vocês acarretavam, essas serão como as
plumas lançadas à correnteza do rio, não voltarão jamais.