Banco Central do Brasil
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sexta-feira, 12 de novembro de 2021
Banco Central - Perfil 3 - Reforma Tributária
pessoalmente para que Wilson Witzel, um colega de
toga, fosse eleito governador do estado. Nas vésperas
da eleição, o juiz vazou um depoimento que implicava
Eduardo Paes, adversário de Witzel e líder nas
pesquisas, num caso de fraude em licitação e
recebimento de propina. Depois da manobra, as
intenções de voto em Witzel dispararam. Bretas,
evidentemente, nega que uma coisa tenha a ver com a
outra. Difícil é negar que ele próprio não tenha flertado
com a hipótese de ingressar na política. Durante algum
tempo, o juiz fez diversos acenos à família Bolsonaro e
participou de eventos ao lado do presidente da
República. Por causa disso, acabou sendo advertido em
um processo disciplinar.
Na tentativa de limitar o acesso de algumas dessas
figuras ao universo eleitoral, o Congresso chegou a
discutir uma quarentena de quatro anos para juízes e
membros do Ministério Público, que foi aprovada na
Câmara. Com a confusão de outras votações, o projeto
perdeu força e hoje está esquecido no Senado. Quando
surgiu, o texto parecia justamente uma manobra para
evitar a candidatura de Sergio Moro, algo casuístico e
um tanto fora de propósito. A discussão teórica, porém,
é válida. Por que permitir que magistrados ou
procuradores façam uso do seu cargo para ganhar
notoriedade em vistas de uma eleição? Ou para
prejudicar adversários de tendências políticas diferentes
das suas? Isso acaba sendo uma subversão completa
do papel da Justiça. Como não há regras estabelecidas
hoje, é possível que até março do ano que vem, quando
se encerra o prazo de filiação para quem pretende
disputar as eleições, outros magistrados e procuradores
decidam migrar para a política. No aspecto legal, não há
nada de errado nisso — desde que suas decisões e
investigações, claro, não sejam usadas como um
trampolim com fins eleitorais.
A JUSTIÇA COMO TRAMPOLIM Não são raros os
casos de juízes, procuradores e delegados de polícia
que usam a notoriedade profissional como passaporte
para a política
Joaquim Barbosa O ex-ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) ganhou notoriedade em 2012 como
relator do processo do mensalão, que levou à cadeia os
principais líderes do PT. Aposentado, filiou-se ao PSB e,
desde então, seu nome sempre aparece como
presidenciável
Wilson Witzel O juiz federal abandonou dezessete anos
de magistratura para disputar o governo do Rio. Com
fama de linha-dura e proximidade com o clã Bolsonaro,
foi eleito contra todos os prognósticos da época e
depois cassado em um processo de impeachment por
desvios públicos
Selma Arruda A juíza dedicou boa parte de sua carreira
à luta contra o crime organizado em Mato Grosso.
Aposentada, decidiu entrar para a política, candidatou-
se ao Senado, ficou conhecida como o “Moro de saias”,
foi eleita e teve o mandato cassado em 2019
Pedro Taques O ex-procurador da República foi um dos
expoentes da Operação Arca de Noé, que levou à
condenação de figurões do crime organizado em Mato
Grosso. No rastro da popularidade alcançada, foi eleito
senador e depois governador do estado
Protógenes Queiroz O delegado da PF conduziu a
Operação Satiagraha, que apurava supostos negócios
escusos entre políticos e um banqueiro. A investigação
foi um desastre, acabou anulada pela Justiça, mas a
visibilidade rendeu ao policial uma vaga de deputado
federal
Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 3 -
Reforma Tributária