Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

ficarão abafados e darão milhos menores – ou morrerão.” Quando seu Valmício
plantava milho, cada alqueire produzia 80 sacas de 60 quilos. Hoje, um alqueire
dá até 500 sacas. Com tamanha pressão por produtividade, não há mais lugar
para a agricultura familiar.
Essa é a história de muita gente do campo, não só no Brasil. No mundo todo,
as propriedades rurais só sobrevivem se produzem em grande escala. Para isso,
precisam de dinheiro, maquinário, sementes e rações especiais, além de uma boa
extensão de terra. Quem vende suas terras e vai para a cidade geralmente passa a
viver em favelas. Quem fica precisa gastar para comer, porque plantar um
pouquinho de cada coisa não compensa mais. Só que a comida custa caro e eles
ganham pouco.
É uma realidade triste – mas a verdade é que a agricultura familiar não tem
como alimentar o mundo. Vamos ver por quê.


“A batalha para alimentar a humanidade acabou. Centenas de milhões vão
morrer nas próximas décadas, apesar de todos os programas contra a fome”,
escreveu o biólogo americano Paul Ehrlich em seu best-seller A Bomba
Populacional, de 1968. Não era à toa. O número de pessoas no mundo chegava a
assustadores 3,5 bilhões, e, de fato, não existia comida suficiente para alimentar
esse povo todo.
Mas Ehrlich estava errado, pelo menos do ponto de vista da quantidade de
alimentos que poderia ser produzida depois da Revolução Verde, um movimento
iniciado na década de 40. O revolucionário ali foi bombar a agricultura com duas
novidades vindas dos laboratórios. A primeira foram os fertilizantes artificiais,
desenvolvidos no fim do século 19 pelo químico alemão Justus Von Liebig, o
mesmo que criou o caldo de carne, mas que só se tornaram viáveis para a
produção industrial a partir de 1909.
Liebig foi um grande estudioso das propriedades do solo e descobriu que as
plantas se alimentam de três componentes principais: nitrogênio, fósforo e
potássio. Esses compostos funcionam como um esteroide para os vegetais,
porque turbinam o crescimento deles, já que leva tempo até que cresçam e deem
frutos. Ainda mais se alguma praga aparecer no meio do caminho e acabar com a
produção toda. Contra isso, a ciência criou a segunda novidade da Revolução
Verde, os pesticidas e herbicidas químicos, capazes de destruir insetos, fungos e
outros inimigos das lavouras com uma eficiência inédita. Com fertilizantes e
agrotóxicos no front, a produtividade das lavouras cresceu exponencialmente.

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