Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

Tanto que, hoje, dá para alimentar uma pessoa com o que cresce em 2 mil metros
quadrados. Antes, eram necessários 20 mil. Em 50 anos, a produção de
alimentos cresceu 40% e a porcentagem de famintos no planeta caiu de 35%
para 13%. Ainda assim, milhões de pessoas continuam morrendo por falta de
alimentos, porque o avanço da produção empaca na distribuição desigual da
comida, principalmente nos países africanos. E a química, que trouxe a tentadora
proposta de salvar a humanidade da fome, cobrou seu preço.


O município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, foi fundado em 1988 e
em pouco tempo já conseguiu entrar no ranking dos maiores produtores de soja e
milho do Brasil. Para garantir o sucesso do agronegócio, os produtores seguem o
padrão nacional e investem em fertilizantes e pesticidas que melhoram a
produção. Inclusive pulverizando lavouras com pequenos aviões, prática comum
no País e proibida na União Europeia. É que borrifar veneno no ar pode fazer a
nuvem se deslocar e atingir casas, gente e bichos, causando doenças.
Foi o que aconteceu em 2006, quando um surto de diarreia e vômito tomou a
população. O episódio passaria batido se, em 2011, pesquisadores da
Universidade Federal do Mato Grosso e da Fundação Oswaldo Cruz não
tivessem começado um estudo no Estado e em Goiás. Eles descobriram que a
pulverização aérea e a feita por tratores acontecem a menos de dez metros das
fontes de água potável, de córregos, de residências e de criações de animais. O
mínimo permitido pelo Ministério da Agricultura é de 500 metros.
Também comprovaram, durante um monitoramento de dois anos, que 83%
dos 12 poços de água potável que abastecem as escolas estavam envenenados. O
sangue dos sapos de duas lagoas também tinha sido contaminado – eles
apresentavam um índice quatro vezes maior de malformação congênita do que o
normal. Pior: colheram amostras de leite materno de 62 mães, e em todas
encontraram algum tipo de agrotóxico, inclusive o DDT, inseticida de baixo
custo banido em vários países desde a década de 1970 – e só em 2009 no Brasil.
O detalhe é que 30% dessas mães moravam na zona urbana, teoricamente longe
do problema.
O DDT foi criado para matar os insetos causadores de doenças como malária e
tifo, a mesma que matou a mãe de seu Valmício. Só depois descobriram que o
DDT era letal também contra pessoas, altamente cancerígeno e perigoso
especialmente para grávidas por causar má-formação fetal. Por enquanto, nem as
mães nem as crianças amamentadas em Lucas do Rio Verde apresentaram
sintomas de algum mal grave. Mas os efeitos são cumulativos e chegam a

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