pendiam das vigas. Então, destoante e protegido por plástico, um microscópio na
mesinha dobrável. No canto, um baú velho de metal armazenava latas de feijão
cozido e sardinha. Nada que atraísse os ursos.
Mas lá dentro ela se sentia presa, incapaz de ver se Chase estava chegando,
portanto foi se sentar na beira do córrego e, com o olho direito, começou a
vasculhar a paisagem de mato alagado. O esquerdo estava fechado de tão inchado.
Mais para baixo do córrego, um rebanho de cinco cervos fêmeas a ignorou e
continuou passeando pela borda da água mordiscando folhas. Se ao menos pudesse
entrar para aquele grupo, pertencer a ele... Kya sabia que, mais do que o rebanho
estar incompleto sem um dos cervos, cada cervo estaria incompleto sem o
rebanho. Um dos animais levantou a cabeça, perscrutando o meio das árvores ao
norte com os olhos escuros, então bateu no chão com a pata direita e depois com
a esquerda. Os outros ergueram a cabeça, em seguida silvaram, assustados. No
mesmo instante, o olho bom de Kya examinou a floresta em busca de sinais de
Chase ou de algum outro predador. Mas estava tudo calmo. Talvez a brisa os
tivesse assustado. Eles pararam de bater com os cascos no chão, mas se afastaram
lentamente para dentro do mato alto, deixando Kya sozinha e inquieta.
Ela tornou a vasculhar a campina em busca de intrusos, mas apurar os ouvidos
e vasculhar a paisagem esgotava toda a sua energia, e ela decidiu voltar para o
chalé. Tirou um queijo da bolsa. Então se jogou no chão e começou a comer
avidamente, tocando a bochecha ferida. Seu rosto, seus braços e suas pernas
estavam cortados e sujos de terra e sangue. Os joelhos ardiam e latejavam. Ela
soluçou, lutando contra a vergonha, e de repente cuspiu pedaços de queijo
misturados com saliva.
Havia causado aquilo a si mesma. Saíra sozinha com um homem. Um desejo
natural a tinha levado solteira até um hotel barato de beira de estrada, mas nem
assim ficara satisfeita. Sexo sob luzes néon piscantes, marcado apenas por um
borrão de sangue nos lençóis, como rastros de um animal.
Chase devia ter se gabado com todo mundo do que eles tinham feito. Não
surpreendia que as pessoas a rejeitassem; ela era indigna, repulsiva.
Enquanto a lua surgia pela metade entre as nuvens velozes, ela ficou
observando a janelinha, tentando distinguir formas humanas agachadas e furtivas.
Por fim, se acomodou na cama de Tate e dormiu com a colcha dele. Acordou
várias vezes, à espreita de passos, então puxou o tecido macio para perto do rosto.
*
Mais queijo esfarelado para o café da manhã. Seu rosto agora exibia uma cor entre
roxo e verde, o olho inchado feito um ovo cozido, o pescoço dolorido. Partes do
lábio superior se contorciam grotescamente. Igual a Ma, monstruosa, com medo
de voltar para casa. Com súbita clareza, Kya entendeu o que Ma tinha suportado e
por que ela havia ido embora.
— Ma, Ma — sussurrou. — Agora eu entendo. Finalmente entendo por que
você teve que ir embora e nunca mais voltou. Desculpa eu não ter sabido, não ter