Um lugar bem longe daqui

(Carla ScalaEjcveS) #1

Clark, alguém que gosta de ficar sozinha, escolhesse um hotel pequeno de beira
de estrada e bastante afastado em vez de um grande e movimentado bem no
centro da cidade? Que essa escolha seria condizente com o temperamento dela?
— Sim, é possível.
— E também não faria sentido que a Srta. Clark, que não tem familiaridade
com o transporte público e sabia que precisaria ir a pé do terminal de ônibus até o
hotel, na ida e na volta, carregando a mala, optasse por um estabelecimento mais
próximo do terminal rodoviário?
— Sim.
— Obrigado. É só isso.
Ao descer do banco das testemunhas, Robert Foster foi se sentar atrás de Kya
junto de Tate, Scupper, Jodie, Pulinho e Mabel.


*


Nessa tarde, Tom tornou a chamar o xerife como sua testemunha seguinte.
Kya sabia pelo rol de testemunhas de Tom que não restavam muitas mais a
serem convocadas, e se sentiu mal ao pensar nisso. Em seguida viriam as
argumentações conclusivas e depois o veredito. Contanto que várias testemunhas
a apoiassem, ela podia ter esperanças de ser absolvida, ou pelo menos de que a sua
condenação fosse adiada. Se o julgamento se arrastasse para sempre, nunca sairia
uma sentença. Ela tentou conduzir a mente para distrações tais como campinas
repletas de gansos-da-neve, como vinha fazendo desde o início do julgamento,
mas em vez disso só conseguiu ver imagens de cadeia, barras e paredes úmidas de
cimento. Aqui e ali surgiam clarões mentais de uma cadeira elétrica. Com muitas
correias.
De repente, teve a sensação de não conseguir respirar, de não poder mais ficar
sentada ali, de que a sua cabeça estava pesada demais para sustentar. Afundou um
pouco na cadeira e Tom se virou do xerife para Kya bem na hora em que ela
segurou a cabeça com as mãos. Correu até ela.
— Meritíssimo, solicito um curto intervalo. A Srta. Clark precisa de uma
pausa.
— Deferido. Sessão interrompida para um intervalo de quinze minutos.
Tom ajudou-a a se levantar e a conduziu pela porta lateral até a salinha de
reunião, onde ela se jogou numa cadeira. Sentando-se ao seu lado, ele perguntou:
— O que foi? Qual é o problema, Kya?
Ela enterrou a cabeça nas mãos.
— Como você pode fazer essa pergunta? Não é óbvio? Como alguém suporta
passar por isso? Estou enjoada demais, cansada demais para ficar ali sentada.
Preciso mesmo ficar? O julgamento não pode continuar sem mim?
Tudo que ela conseguia fazer, tudo que queria era voltar para sua cela e se
aconchegar junto a Justiça de Domingo.
— Infelizmente não. Num caso de pena capital como esse, a lei exige a sua
presença.

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