afirmar é que...”
Eva ficou olhando fixamente para a tela enquanto o repórter continuava a falar.
“Ao vivo”, indicava-se no canto superior esquerdo. Ao fundo, via-se a Chefatura de
Polícia de Copenhague, que ficava logo depois da esquina, pertinho da estação.
Ouviu o aviso eletrônico das portas do vagão. Elas se fechariam dali a um segundo, e
o trem se colocaria em movimento e a levaria a Roskilde para que tocasse a vida
adiante... Nem sequer teve tempo de chegar ao fim do pensamento. Era agora ou
nunca. Saltou do trem.
Eva viu o furgão da TV2. Os técnicos estavam recolhendo o equipamento. O
repórter cujas costas ela tinha acabado de ver na tela do trem falava ao celular
enquanto tomava café. Qual seria o lead de Eva? Afinal, ela também era jornalista.
Olhou na bolsa e achou a carteira. Sim, a carteirinha de jornalista continuava lá. Já
tinha caducado, mas que importância tinha isso? Aproximou-se da Chefatura de
Polícia a passos lentos. Fazia muito tempo que não ia lá. A última vez tinha sido
quando ainda era universitária e estagiava no Ekstra Bladet. Muitos de seus colegas
de curso acabaram indo fazer estágio em jornais locais e pequenos canais de TV. Eva,
porém, tinha engolido o orgulho, mandado currículo e foto ao redator-chefe do
tabloide sensacionalista e escrito que lhe interessava o destino das pessoas, a vida
delas, sobretudo a íntima – o amor, o sexo, os sonhos, as ambições, as tragédias.
Uma semana depois, a secretária do editor-chefe telefonou para lhe oferecer uma
posição no Ekstra. Começou atuando com repórter veterana, dessas que tinha
trabalhado com crimes e desgraças a vida toda. Juntos, visitaram os juizados, no
mesmo complexo em que ficava a Chefatura de Polícia, e aquela foi a última vez
que pisou lá. Isso logo faria dez anos.
- Oi! – disse o repórter da TV2, que a tinha visto. Ele sorriu. Um pouco mais
novo que Eva, talvez tivesse estado na faculdade à mesma época e se lembrava dela.