ele tinha mudado de lado e queria salvá-la. O que mais? O grupo já não confiava
nele. Até que se recuperasse, até que a questão com Eva estivesse resolvida, eles o
manteriam sob controle. Se Marcus estivesse no lugar deles, faria o mesmo. Mas já
não era um deles, não mais. Já não era parte de nada. Estava sozinho.
Foi quando tirou a roupa do armário que se deu conta de quanto tinha sido duro
o impacto que sofrera. Suas calças estavam rasgadas de alto a baixo; a camisa,
encharcada de sangue; e havia sumido metade do salto do sapato esquerdo. Parecia
que alguém o tinha atropelado com a intenção de matar. Recordou o momento.
Olhara por cima do ombro. Eva estava à frente dele, no semáforo, e Marcus tinha
corrido mais alguns metros antes de ir para a via. Ali, tornou a olhar para trás. Teria
ouvido o carro; foi por isso que se voltou? Não teve tempo de ver nada além dos
faróis. Quem dirigia? Estava com Trane no fone de ouvido. Marcus o tinha ouvido
gritar.
Balançou negativamente a cabeça. Naquele momento, Marcus sabia que era uma
péssima testemunha de acusação. Teria gostado de dizer que viu Trane ao volante;
isso teria simplificado tudo, a vontade de vingança. Só que não tinha certeza. Mas
tinha quase? Nesse tipo de colisão, as sensações, o medo, as alucinações e as
lembranças sempre se misturam. “Ele sabia”, pensou. Pensou em Trane. O que
Trane já sabia? Tinha sido mesmo ele o motorista do carro? Fora ele quem tentou
assassiná-lo? O que Trane tinha dito? Que por ora Eva estava abaixo do radar, mas
que a achariam. Marcus não teria muito tempo se quisesse salvá-la. Por mais que
Eva viesse aprimorando dia a dia as próprias habilidades, ela não poderia fazer nada
para se proteger deles. Era questão de horas. Eva tinha deixado digitais eletrônicas
em algum lugar, Trane a localizaria, e a única pista de que Marcus dispunha era a
mulher que talvez fosse Eva e que tinham examinado naquele mesmo hospital.
Talvez já estivesse morta.
- Levantou?! De novo?!
A enfermeira estava na porta.