fosse nem mais nem menos que uma leitora despreocupada na manhã de um
sábado qualquer, tomando a xícara de café na varanda de casa.
- Foi uma coisa horrível – disse a mulher. – Vi na TV. Você conhecia a pessoa?
- Não.
- Você é da polícia?
- Sou jornalista.
Na mesma hora, em alguma parte da cabeça daquela mulher, a palavra provocou
uma reação em cadeia de hostilidade. Eva viu isso em seu olhar. Os jornalistas
servem para prover entretenimento e para desmascarar os outros, mas ninguém
quer repórter zanzando pelo quintal. - O Ulvedalene? – perguntou Eva.
A mulher hesitou um instante. - Você tem que entrar mais na mata. Vai chegar a uma clareira, para a esquerda. É
uma área muito grande. - Obrigada.
Eva pretendia lhe dar as costas, mas a mulher continuou onde estava. Como se
quisesse algo, como se tivesse alguma coisa para dizer. - Eu conheço o homem que encontrou o corpo.
- Ah, é? Não deve ter sido muito agradável.
- Ele depois teve até que receber assistência psicológica.
- E ele... viu mais alguém?
- Do que você está falando? Não foi suicídio?
- Foi, pelo menos segundo a polícia.
- Você é do Ekstra Bladet?
- Acertou em cheio – apressou-se a dizer Eva.
- Não vou dizer que adoro esse tabloide.
- Nem eu – disse Eva sorrindo e, aproximando-se uns centímetros mais da
mulher, sussurrou: – Mas, de vez em quando, publica alguma verdade, alguma coisa