enorme atravessava toda a tela. O aparelho já não recebia chamadas. Mas talvez o
microfone continuasse funcionando. Encontrou a função gravar e a ativou.
- Oi – disse. Deixou o celular em cima da mesa. Afastou-se um pouco. – Dá para
me ouvir? – perguntou retoricamente; ninguém respondeu. Não até que
interrompeu a gravação e a pôs para tocar. Sim, dava.
Voltou para o corredor e se dirigiu à sala grande. A porta, agora, estava fechada.
Bateu e entrou. - Está procurando alguém?
- Estou – disse Marcus, e tratou de determinar quem tinha perguntado.
A mulher dos óculos escuros. Ela parecia eficiente, e era justamente disso que
Marcus precisava. - Tenho que falar com o dr. Boris Munck.
A mulher virou de leve a cabeça. Um homem ergueu os olhos. Era mais moço que
muitos outros médicos. Irradiava uma arrogância e uma obstinação que não
casavam bem com sua voz agradável. - Sou eu – ele disse, e encarou Marcus com olhar frio. – Desculpe-me, mas vou
ter que pedir que vá embora. Nem pacientes nem familiares são permitidos aqui. - Será que poderíamos conversar só um instante? – disse Marcus, e terminou de
entrar na sala. Colocou-se junto à janela.
Boris se levantou. O sujeito estava em forma. - Amigo, saia agora mesmo.
O celular já estava no peitoril da janela, escondido atrás da cortina. - É sobre a Eva. – disse Marcus. – Eva Katz.
- Quem?
- Uma mulher que você atendeu. Outro dia, ela veio ao hospital com outra
mulher. Como eu já disse, o nome dela é Eva Katz. Bonita, esbelta, cabelo até o
ombro. Tinha marcas no pescoço, como se alguém tivesse tentado esganá-la... - Você ouviu o que eu falei? – disse Munck, e se voltou para uma das outras