Banco Central do Brasil
Revista Isto É Dinheiro/Nacional - Economia
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Davos
Sem qualquer acordo comercial concreto, Guedes
aproveitou para fazer uma ponta de embaixador da
antidiplomacia bolsonarista. Ofuscado pelo noticiário
que vinha do Brasil, o ministro fez ataques a Bélgica e a
França, que estariam, segundo ele, agindo para retardar
o ingresso do Brasil na Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as
nações mais desenvolvidas do mundo. Segundo ele, os
dois países adotam essa postura para proteger seus
setores agrícolas de competição com o Brasil. O
ministro afirmou ainda que a Europa “perdeu a Rússia”
e vai perder também a América Latina como parceira
comercial se não houver maior integração entre os
países. “A Bélgica e a França ficam retardando o
acesso do Brasil à OCDE porque são protecionistas
com sua agricultura. Conversando com eles dissemos:
‘Nos aceitem antes que se tornem irrelevantes para
nós’”, disse Guedes, em palestra no fórum. “Eu disse
aos europeus que eles perderam a Rússia e agora
perderão a América Latina.”
A deselegância diplomática de Guedes causou mal-
estar em um fórum que tem apelado ao diálogo para
solucionar os problemas atuais da economia global, de
inflação à guerra da Ucrânia — o presidente Volodimir
Zelenski foi um dos nomes de destaque do Fórum.
Curiosamente, Guedes atacou um dos principais
parceiros do Brasil. No primeiro trimestre deste ano, a
França despontou como o país que mais concretizou
investimentos diretos por aqui, num total de US$ 8,6
bilhões, segundo a Câmara de Comércio Exterior
(Camex). Foi o melhor resultado da história. Além disso,
há mais de 1 mil empresas francesas no Brasil —
gigantes que vão de L’Oréal, Michelin e Renault até
Carrefour, Danone e Saint-Gobain —, que empregam
mais de 500 mil pessoas, de acordo com a Câmara de
Comércio Brasil-França.
Para Welber Barral, estrategista de comércio exterior do
Banco Ourinvest e ex-secretário de Comércio Exterior,
Guedes tentou em Davos adotar uma postura que
evitasse transparecer o aumento das intervenções do
governo na economia, mas ficou impossível depois da
mudança na Petrobras. “O Guedes se esquivou até
onde deu das polêmicas”, afirmou.
ESPERANÇA Depois do climão com a Europa e a
confusão com a Petrobras, Guedes até tentou resgatar
um otimismo na reta final da viagem. Ele avaliou que o
País também “vai se livrar” da inflação antes das
economias mais avançadas — ignorando ou omitindo
que a escalada média dos preços no G20 (+7,9%) é
bem menor que a brasileira (11,3%) em 12 meses até
março, segundo a OCDE.
Para completar seu exercício de ilusionismo, disse que
o Brasil vai crescer 2% este ano, mais do que as
economias desenvolvidas. Seu próprio ministério, no
entanto, divulgou semana passada a previsão de
expansão do PIB de 2022 em 1,5%. Segundo Guedes,
o crescimento será maior com inflação mais baixa, e
porque o governo promoveu um ajuste nas contas
públicas, contendo gastos, ao mesmo tempo em que o
BC começou a subir a taxa básica de juros mais cedo.
Sobre as balbúrdias econômicas de Bolsonaro, disse
que ele não tem nada a ver com a mudança na
Petrobras. “O presidente indica o ministro. O ministro
indica o conselho. O conselho indica o CEO e a
diretoria. É isso.” Alguém precisa avisá-lo que somente
ele anda acreditando no que diz. E que uma coisa
inevitável chamada realidade o contradiz. Com fatos.
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